A natureza é sábia. Mas, mais do que isso, a natureza ensina—e ensina a quem está disposto a observar. No meu quintal, uma cena simples, quase imperceptível para muitos, revelou uma lição poderosa sobre relacionamento, comunicação e estratégia.
Dois ovos recém-chocados, dois filhotes ainda sem saber voar. O ninho já não existia, a mãe aparentemente havia partido, e cada um seguiu um caminho próprio para reconhecer o mundo.
O primeiro, aflito, desceu da parreira para o solo, sozinho. Medo, aceleração da respiração, um instinto de sobrevivência gritando dentro daquele pequeno corpo. O outro permaneceu imóvel, ainda preso à estrutura do ninho desfeito. O tempo passou, e no dia seguinte, algo novo: grãos de milho espalhados pelo chão, quase como um mapa deixado pela mãe, que teoricamente tinha “voado”. Poucas horas depois, o segundo filhote desceu. E juntos, os dois começaram a trilhar o caminho, fortalecidos pela presença um do outro.
A primeira vontade que tive foi de me aproximar, acolhê-los. Mas bastou um pequeno movimento em direção ao primeiro filhote para perceber: ele não estava pronto. A respiração acelerou, o olhar expressava medo. Meu instinto de cuidar poderia ter sido interpretado por ele como uma ameaça.
Então, decidi apenas observar.
E foi no silêncio da observação que tudo se revelou. O tempo deles era outro. O ritmo deles não era o meu. A chegada do segundo filhote, a adaptação ao novo território, a criação da confiança… tudo aconteceu no tempo certo para eles, não para mim. No final, ali estavam eles, permitindo a minha aproximação, sem medo.
Se existe uma lição poderosa nessa experiência, é esta: não conseguimos nos conectar com quem não conhecemos. O erro mais comum que cometemos ao tentar estabelecer um relacionamento — seja pessoal, profissional ou de marca — é querer acelerar um processo que exige maturação.
A comunicação eficiente não impõe, ela observa e entende antes de agir.
Quantas vezes vemos marcas tentando “falar a língua do público” sem, de fato, conhecer sua cultura, seus medos, sua forma de pensar? O resultado é quase sempre um desconforto, uma desconexão. No pior dos casos, causa repulsa.
Assim como com os filhotes, precisamos dar o tempo da observação antes da aproximação. Precisamos entender o território do outro antes de querer fazer parte dele. A pressa em construir conexão pode se tornar um obstáculo quando ignoramos o tempo e o espaço do outro.
Marcas, empresas e profissionais que dominam a arte da escuta e da observação estratégica têm mais chances de criar conexões genuínas, diálogos verdadeiros e relacionamentos duradouros.
A Sabedoria Está no Nosso Quintal
Muitas respostas que buscamos no mundo dos negócios, do branding e das relações humanas já estão ao nosso redor. Basta termos olhos para ver e ouvidos para ouvir.
A natureza, com sua simplicidade, nos ensina que a confiança não é imposta, mas conquistada. Que a aproximação não pode ser forçada, mas deve ser construída. E que, antes de querer oferecer algo a alguém, precisamos entender se ele está pronto para receber.
No final, os filhotes me deixaram tocá-los. Mas só depois de terem a certeza de que minha presença não era uma ameaça, mas parte do território que aprenderam a reconhecer.
E no mundo da comunicação, do branding e dos relacionamentos, não é exatamente assim que funciona?